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sábado, 30 de julho de 2011

Eu e o Luto - Homenagem

Eu tinha nove anos quando decidi ignorar as ordens de meu pai de deixar seu quarto porque ele estava com muita dor de cabeça e precisava dormir. Sabia que ele costumava  cair rápido no sono e podia eu continuar a assistir às “câmeras escondidas” do Silvio Santos em sua TV sem o menor problema. Mas não se passaram nem dez segundos quando vi minha mãe pular por sobre seu corpo e se agarrar ao telefone ligando para meu tio que era médico. Foi quando notei que meu pai se debatia no colchão em convulsões. Sofria ele ali o primeiro de três derrames que lhe atingiriam naquela noite. E que levariam sua vida embora cinco dias depois.
A notícia veio na madrugada. Meu tio disse na ligação que precisava conversar conosco. Meu corpo tremia. Todos nós tremíamos. Quando a porta abriu e ele abraçou minha mãe, caí em desespero. Ninguém tem estrutura emocional para receber uma notícia dessas, muito menos uma criança de nove anos de idade. A pior dor que senti na vida. E que ainda dói vez em quando, como agora, no momento em que escrevo.
Eram nove horas da manhã quando saía do banho. Estava me arrumando para o velório. Passou um comercial de uma rede de postos estrelado por B.B. King (acho). Na ocasião tocava uma música que eu gostava. E me dei a assobiá-la. Logo fui censurado por meus parentes. Achavam desrespeitoso de minha parte para com meu pai que falecera horas antes. E assim silenciei. Por muito tempo. Só voltei a sorrir sem medo anos depois, já no final da adolescência. Até então, cada vitória era amarga, arrancava-me sorrisos com a estranha melancolia de que algo faltava e, pior, como se eu inconscientemente tivesse alguma culpa no ocorrido.
Meu pai era uma das pessoas mais felizes que existiu. Um cara que levantava o astral de qualquer ambiente. Mas infelizmente  temos a cultura de respeitar nossos entes queridos que perdemos com nossa tristeza. Eu não quero isso para mim. Curto mais certas culturas gringas que reúnem amigos para celebrar a lembrança de um finado em vez de chorar a sua morte. Por mim, meus amigos organizariam um churrasco no dia do meu enterro. E encheriam a cara ao som das músicas que eu mais curtia.
Ontem morreu Fefeu, outro mestre, a exemplo de meu pai, da arte de transformar um encontro entre amigos em momentos extremamente felizes. Estávamos distante há alguns anos, como naturalmente costumamos ficar da maioria de nossos amigos (infelizmente). Mas ele nunca deixou de ser uma figura que eu fazia questão de abraçar sempre que encontrava aí pelo mundo.
Em uma das várias lembranças que agora ressurgem, Fefeu comentava uma piada que contara para a sua mãe sobre a morte de seu irmão (falecido uns dez anos atrás). Sim, da morte do irmão dele. Para a mãe dele. Se bem lembro, “brincava” ele com o título da novela “Éramos Seis”, mas posso estar enganado pois até onde sei eles eram só três irmãos (que somados aos pais “eram cinco”). Desrespeitoso? Não. Não acho. Nunca conheci o irmão dele, mas sempre vi em Fefeu um cara que tirava o melhor do pior. Sempre curto pessoas assim. E este era só mais um momento. Talvez por isso gostasse dele. Talvez por isso ele fosse tão querido.
Desde ontem choro aqui e ali. No ônibus que me levou em meio à chuva ao aeroporto. No avião. Agora enquanto escrevo estas palavras. E me dá uma agonia. Porque ele não era um cara das lágrimas. Fecho os olhos e lembro dele sorrindo. É sempre assim. Sempre foi assim. E sempre será. Por isso quero tanto que o tempo corra. Para que a lembrança dele deixe de ser algo que me leve às lágrimas.
Até lá, pode deixar seu sorriso no caminho que eu me aperto e consigo passar com a minha dor. Porque me interessa muito mais que você me contamine que o contrário.

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