PROJETO PARA A CRIAÇÃO DA PASTORAL DO LUTO - Revisão em Julho de 2011 Evaldo A. D´Assumpção Médico, Biotanatólogo, Fundador do Departamento de Tanatologia da Associação Médica de MG (Sotamig) Senior-member of the Association for Death Education and Counseling (USA). INTRODUÇÃODiante da observação que tenho feito ao longo de vários anos, as famílias enlutadas, tão logo termina a missa da Ressurreição, quase sempre são completamente abandonadas por parte da Igreja Católica, no que diz respeito ao acolhimento efetivo, teológico e psicologicamente preparado e eficaz. Trabalhando há trinta anos na área de Tanatologia – hoje prefiro denominá-la de Biotanatologia = ciência da vida vista pela ótica da morte – dediquei-me, por mais de dez anos, mais especificamente à questão do luto. Por isso, com frequência era questionado sobre a minha opção religiosa. Especificamente, se era espírita. E, quando me dizia católico, as pessoas admiravam-se: “Como, se na Igreja Católica não se costuma falar sobre a morte?” Essa imagem de nossa Igreja sempre me incomodou bastante e, exatamente por isso, paralelamente ao trabalho profissional (do qual hoje estou aposentado) que realizava no extinto Núcleo Fênix, dediquei-me a um trabalho voluntário de atendimento a enlutados, com o apoio do Revmo. Pe. Fernando Gomes, pároco da comunidade de Sto. Inácio de Loyola (Bairro Cidade Jardim, Belo Horizonte-MG) e do Centro Paulinas de Belo Horizonte, onde realizava meus Grupos de Suporte ao Luto. Contudo esta era uma ação como a do beija-flor que tentava apagar o incêndio na floresta. Fazia a minha parte, mas ela era muito pequena diante da necessidade do povo de nosso País. Por esta razão, desenvolvi esse PROJETO PARA A CRIAÇÃO DA PASTORAL DO LUTO, que acredito ter muito maior abrangência que a Pastoral das Exéquias, existente em algumas dioceses. Alguns sacerdotes questionaram-me se o seu nome não seria melhor PASTORAL DA ESPERANÇA ou PASTORAL DA MISERICÓRDIA. Minha resposta é sempre negativa, pois em primeiro lugar há que se quebrar o medo, o tabu de se falar em morte e luto, não só em nossa sociedade como um todo, mas dentro da Igreja Católica em especial. Em segundo lugar, porque esse trabalho é o de acolher as pessoas que já ESTÃO DE LUTO, para que possam vive-lo inteiramente, pois isso é fundamental para que possam então superá-lo. Sendo assim, não devemos acenar com uma “esperança”, mas como a certeza de que devem e podem superar este processo psicológico que é essencial para que não se guardem traumas nem sofrimentos devidos às perdas sofridas. E em terceiro lugar, porque o luto é um termo mais amplo que engloba a reação psicológica-emocional comum a toda e qualquer perda sofrida. Repetindo: o luto deve ser vivido e não ignorado ou esquecido por falsa conveniência. DESENVOLVIMENTOA PASTORAL DO LUTO será formada por leigos e sacerdotes que se disponham a trabalhar com as questões relacionadas à morte, especialmente na fase do luto, seja ele o LUTO ANTECIPATÓRIO, enquanto a família vive uma doença de um parente em sua fase terminal, seja ele o LUTO pela perda já acontecida. Por isso é muito interessante que a Pastoral das Exéquias tenha também uma formação sobre o trabalho com enlutados. ETAPAS PARA A IMPLANTAÇÃO DA PASTORAL DO LUTO(Que será ótimo se puder englobar a Pastoral das Exéquias, formando uma só, uma vez que o trabalho de uma se entrelaça com a da outra, sendo a Pastoral do Luto bem mais abrangente do que a das Exéquias). 1º - Uma palestra (de duas horas de duração) ou um pequeno seminário (o que seria melhor) de 4 (quatro) horas, aberto a todas as pessoas que estiverem interessadas e disponíveis a participar desse trabalho. Nele serão dados alguns conceitos sobre vida e morte, e sobre o luto. Nele serão formados também grupos para trabalharem em cima de algumas questões, que serão apresentadas num plenário final, para aquilatar a “vocação” daquelas pessoas para essa Pastoral. 2º - É essencial que aqueles candidatos ao trabalho com o luto, façam primeiro um trabalho consigo mesmos para descobrirem como se situam diante das perdas e da morte. Afinal, tentar ajudar alguém que está vivendo um problema dessa natureza, sem ter seus próprios problemas resolvidos, é como o coxo tentar ajudar ao manco. 3º - Em seguida, deve ser realizado um curso preparatório para as pessoas que se auto-selecionaram, com aulas de biotanatologia, noções de teologia, escatologia e liturgia aplicadas ao atendimento a enfermos em fase terminal e seus familiares, bem como a famílias enlutadas. Para este curso, sugere-se um programa incluindo os seguintes temas, essenciais para se trabalhar com enlutados: a) Introdução à Biotanatologia – Mitologia e História b) O Sentido da Vida e da Morte c) A arte de cuidar, compaixão para acolher d) Atendimento a pessoas em fase terminal de sua doença e a seus familiares e) A criança e a morte f) O Idoso diante da vida e da morte g) Suicídio – apoio à família h) Liturgia das Exéquias i) Morte e Espiritualidade – Conhecimento básico da visão de diferentes religiões, da morte e do após-morte. j) Escatologia – As realidades futuras na visão cristã-católica. k) Ritos mortuários. Rito mortuário alternativo (para ausência de corpo) l) Elaboração do Luto m) Providências jurídicas para enlutados 4º - Quando tiver um grupo definido e preparado de agentes pastorais, estabelecer escalas de atendimento, com reuniões periódicas (mensal no início, depois trimestral) de supervisão e apoio. 5º - Programação de Grupos de Suporte ao Luto (GSuL), que devem abranger um grupo de paróquias (em Belo Horizonte existem as Foranias que reunem grupos de paróquias, e as Regiões Episcopais, que reunem as Foranias). Dependendo da realidade de cada Diocese, será definido um número de Paróquias para sediar um GSuL, que pode ser realizado semestralmente no início, aumentando sua frequencia se houver necessidade. O GSuL pode ser realizado num único dia (sábado de 8 às 18 horas, por ex.) ou em seis sessões de 90 minutos, que podem ser uma ou duas vezes por semana. Para conhecimento dessa metodologia, sugere-se a leitura do livro publicado pelas Edições Paulinas: GSUL – GRUPO DE SUPORTE AO LUTO. (Ver na bibliografia, no final desse texto) 6º - Programação de palestras abertas ao grande público, em comunidades paroquiais e com divulgação ampla, para “educação para a vida-perda-morte-luto”. 7º - Disponibilização de horário e local para sacerdotes e ou leigos fazerem atendimento individual nessa área, a pessoas mais necessitadas desse atendimento. 8º - Disponibilizar leigos treinados nessa Pastoral, para atendimento em velórios, inclusive com celebração de ritos próprios, na ausência de sacerdotes. 9º - Na proximidade do Dia de Finados, organizar um seminário de 4 (quatro) horas aberto ao público, abordando questões referentes a perdas e luto. Se possivel, conseguir parceria com empresas funerárias e cemitérios que possam patrocinar esse trabalho, proporcionando local para os mesmos. 10º - Redação de artigos para a imprensa leiga, abordando temas relacionados à vida-perdas-morte-luto. 11º - Disponibilizar pessoas que tenham vocação e se disponham a falar em colégios sobre questões ligadas à Biotanatologia. 12º - Gravar palestras em DVD para que possam ser fornecidas a colégios, paróquias e outras instituições onde servirão para promover uma educação para a vida-perda-morte-luto, indispensável à qualidade de vida do Ser Humano. 13º - Conseguir um espaço nos meios de comunicação da Diocese (rádio, TV) para um programa de 20 a 30 minutos, uma vez por semana, onde alguns agentes dessa pastoral irão responderr questões dos ouvintes, sobre temas de Biotanatologia. Também para esse programa, pode-se buscar um patrocínio de empresas funerárias. 14º - Imprimir folhetos informativos sobre a Pastoral do Luto e sua programação, para distribuição nas Igrejas. 15º - Por ocasião da marcação das missas da Ressurreição nas secretarias paroquiais, dar aos familiares um ou dois exemplares do livro DIZENDO ADEUS (Ed. Fumarc, Belo Horizonte), que é um manual de orientação para as pessoas enlutadas, cujo uso foi amplamente comprovado ser de grande utilidade para elas, em empresas funerárias de Belo Horizonte e em algumas paróquias daquela capital. Até onde sabemos, não existe outro livro semelhante e tão completo para pessoas enlutadas, como este, no Brasil. Também por ocasião da marcação dessas missas, a Pastoral do Luto deverá disponibilizar para a família, como sugestão, algumas mensagens impressas, para serem lidas no final da celebração. Com isso evitar-se-ão mensagens que costumam ser lidas, sem qualquer sentido e até mesmo com conteúdo contrário à correta doutrina cristã. 16º - A Pastoral do Luto deverá redigir algumas sugestões homiléticas para as Missas da Ressurreição, que sendo aprovadas pelo Senhor Bispo ou Arcebispo, serão distribuídas aos sacerdotes como uma colaboração para essas celebrações. 17º - Anualmente os membros dessa Pastoral deverão participar de um Retiro Espiritual em Silêncio, para meditação nas questões relacionadas às perdas e à morte à luz do Evangelho. 18º - A leitura de livros e textos apropriados é fundamental ao conhecimento e ao aprimoramento das atividades da Pastoral do Luto. Outras atividades poderão surgir pela criatividade dos Coordenadores da Pastoral do Luto (que deve ter esse nome e nada de “atenuantes” como Pastoral da Esperança, da Misericórdia, etc, que tiram a oportunidade de desmistificar palavras que são tabu em nossa cultura). Com todo respeito à formação dos sacerdotes, temos observado que um bom número deles tem dificuldades para trabalhar diretamente com a morte, por vezes realizando celebrações com conteúdo mal aproveitado – especialmente nas homilias em missas da Ressurreição – para uma evangelização dos presentes. Que, por ali estarem somente por razões sociais, nem sempre sendo ligados a uma religião, perdem excelente oportunidade para escutarem aquilo que lhes poderia motivar a uma reflexão mais profunda sobre o sentido da vida e da morte, à luz dos Evangelhos. Para esses sacerdotes, a Pastoral do Luto poderá ser de muito apoio. *********************** BIBLIOGRAFIA SUGERIDA PARA EMBASAR ESSE TRABALHO1) Sobre o viver e o morrer - Manual de Tanatologia e Biotanatologia - Evaldo A. D´Assumpção – (2ª edição ampliada) Ed. Vozes, Petrópolis (2011) 2) Dizendo Adeus (Como viver o luto para superá-lo) – 8ª edição revisada – Ed. Fumarc, Belo Horizonte (2011) 3) Grupo de Suporte ao Luto (GSuL) – Evaldo A. D´Assumpção - Ed. Paulinas (2003) 4) O infortúnio entrou em minha casa – Evaldo A. D´Assumpção – Edição do Núcleo Fênix-Fumarc (2007) 5) Morte e Espiritualidade – Evaldo A. D´Assumpção – Ed. Cirplast-Fumarc, Belo Horizonte (2006) 6) Por que sofro, se procuro ser bom? - Evaldo A. D´Assumpção - Editora O Recado, SP (1996) 7) O sentido da vida e da morte - Evaldo A. D´Assumpção - Editora O Recado, SP (1998) 8) Transcomunicação - A comunicação com os mortos explicada pela Parapsicologia - Evaldo A. D´Assumpção - Editora O Recado,SP (1996) 9) Coleção: Arquivos de Biotanatologia e Bioética, que já tem os seguintes títulos já publicados: Volume 1 – Tanatologia – Ciência da Vida e da Morte Volume 2 – Bioética e Cidadania Volume 3 – Morrer. E depois? Volume 4 – Suicídio Volume 5 – Convivendo com Perdas e Ganhos Volume 6 – A Criança e a Morte Volume 7 – O Idoso diante da Vida e da Morte Volume 8 – Auto-Imagem e Auto-Estima Volume 9 – Em Busca de Si Mesmo Volume 10 – Princípios básicos para o atendimento em catástrofes Evaldo A. D´Assumpção - Ed. Fumarc, Belo Horizonte (2002 a 2011) 10) DVD – O rio e o mar – O sentido da vida e da morte – palestra do Prof. Evaldo D´Assumpção - Ed. Fenix, Belo Horizonte (2009) 11) DVD – Enxugando as lágrimas – reflexões sobre o luto – palestra do Prof. Evaldo D´Assumpção - Ed. Fenix, Belo Horizonte (2009 12) Do Luto à Luta - Gláucia Rezende Tavares e colaboradores - Ed. Própria, Belo Horizonte (2001) 13) Terapia do Luto - J.Wiliam Worden - Ed. Artes Médicas, Porto Alegre (1998) 14) Luto – Collin Murray Parkes – Summus Editorial, SP (1998) 15) Viver sem o temor da morte - Renold J.Blank - Edições Paulinas, SP (1984) 16) Reencarnação ou Ressurreição - Renold J. Blank - Edições Paulus, SP (1995) 17) Consolo para quem está de luto - Renold J. Blank - Ed.Paulinas, SP 18) Reencarnação, sonho ou realidade - Edmond Robillard - Edições Paulinas, SP (1984) 19) Biotanatologia e Bioética – Coord. Evaldo A. D´Assumpção – Ed. Paulinas, SP (2005) 20) A Psicoterapia em situações de perdas e luto – Maria Helena P.F. Bromberg – Editora Livro Pleno, Campinas, SP (2000) 21) Estudos avançados sobre o luto – Maria Helena Pereira Franco – Editora Livro Pleno, Campinas, SP (2002) 22) Suicídio: uma morte evitável – Humberto Corrêa e Sérgio Perez Barrero – Ed. Atheneu, São Paulo (2006) 23) Silêncio – José Ricardo de Oliveira – Edição própria – Belo Horizonte (2009) **************************************************** Os livros do Dr. Evaldo A. D´Assumpção poderão ser adquiridos através do site: http://www.nucleofenix.com/ . Alguns, conforme ali está indicado, deverão ser solicitados diretamente às Editoras, cujos endereços estão também no site. |
Disponível em: http://www.nucleofenix.com/site/index.php?option=com_content&task=view&id=152&Itemid=31
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